Espécimens II

2012
Chico Dantas
publicado em 29.04.2013
última atualização 18.12.2014

O artista treina o olhar usando os pés.

Em 2011, eu estava hospedado em um hotel no Centro de São Paulo, para participar da 17º edição do Videobrasil. Todas as manhãs, enquanto eu caminhava, observava um grupo de pessoas que dormia sob a marquise de uma loja fechada, ao lado do hotel. Elas eram parecidas com pessoas que passam pela minha rua, em...


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O artista treina o olhar usando os pés.

Em 2011, eu estava hospedado em um hotel no Centro de São Paulo, para participar da 17º edição do Videobrasil. Todas as manhãs, enquanto eu caminhava, observava um grupo de pessoas que dormia sob a marquise de uma loja fechada, ao lado do hotel. Elas eram parecidas com pessoas que passam pela minha rua, em João Pessoa, e com outras que sempre vejo em Recife. Elas permaneciam na calçada (os seus desabrigos) até nove e meia ou dez horas da manhã; pediam dinheiro e cigarro, depois desapareciam e voltavam no final da tarde. Provavelmente aqueles indivíduos iriam continuar na mesma rotina até que a vida os renovasse. Lembro que havia uma mulher grávida no grupo.

Espécimens II faz parte de uma trilogia que trata da relação do organismo urbano com os seus habitantes. Em um primeiro momento, o trabalho tinha como base o registro de traços arquitetônicos – nos centros históricos de João Pessoa, Recife e São Paulo – que apontassem para o uso de edificações abandonadas. Em um segundo momento, a pesquisa estendeu-se para diversos espaços dessas cidades a fim de observar e descrever experiências relacionadas aos locais de trabalho e assentamentos urbanos.

Embora a obra tenha uma ligação íntima com situações reais, algumas delas foram produzidas em estúdio. Acredito na liberdade de dar às imagens o destino que o artista pretende, e no poder de esmiuçar a obra, expor as vísceras do que está sendo realizado e identificar conteúdos que nem sempre são vistos a olho nu. É assim que as luzes separadas dos automóveis, no processo de edição, traçam o desconforto da noite.

Espécimens II relaciona o seu argumento à uma poética de valorização da manipulação de imagens. O que seria o ponto de partida da produção, acaba sendo influenciado pela edição e pelo tratamento de imagens.

Durante esse processo, importantes intervenções foram realizadas com softwares específicos para a invenção de conteúdos diversos. Essas ferramentas são capazes de submeter as imagens aos propósitos do realizador, para usá-las como instrumentos de investigação. Sob a orientação de um olhar que coloca de um lado a retórica dos efeitos especiais, e do outro o argumento, os desvios de leitura são acolhidos como atalhos que levam a outros destinos semânticos. Os dois extremos dialogam sem que o primeiro sobreponha-se ao segundo.

Nesse ambiente de ressignificações, emergem comportamentos ficcionais atribuídos a coisas que não têm sentimentos, como a indiferença das luzes dos automóveis que descrevem o desconforto da noite.”


Chico Dantas em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Espécimens II (2012) | Chico Dantas
Vídeo | 5’30”, estéreo, cor, 16 : 9, loop

Espécimens II (2012)

Depoimento Chico Dantas | 18º Festival

O artista fala de seus primeiros contatos, já na infância, com o cinema, no interior do estado da Paraíba. Segundo ele, seu trabalho como videoartista é como uma continuação de seu trabalho pictórico, como pintor e gravador

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