Este trabalho foi apresentado pela primeira vez como parte de uma exposição intitulada Holdings: Refiguring the Archive, com curadoria de Jane Taylor, na Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo. A exposição fazia parte de uma série de projetos criativos e intelectuais que analisavam os processos de arquivo na África do Sul, em rápida mutação. Em meu trabalho, incluí fragmentos de imagens de arquivo que eu encontrara no Gay and Lesbian Archive, arquivo sobre gays e lésbicas. Eu já vinha criando obras sobre o amor homossexual há muitos anos. Reuni essas obras em duas séries, intituladas Love’s Ballast e Memorials without Facts.
O título dessa última série foi escolhido porque, na ausência de fatos em arquivo, eu inventava histórias sobre aquilo que fora apagado ou caracterizado como crime. Já há alguns anos, venho trabalhando com ideias sobre amor e sexualidade, como o fato de que, sob certos aspectos, o amor é um índice da memória, tanto a nossa própria quanto as memórias (ou instruções sobre como amar) que herdamos. Me interessa a inevitável ligação entre os atos de amor e a memorialização. Cada beijo é uma reinscrição dos atos de amor de outros homens.
Minha liberdade de amar é oprimida pelos atos de outros homens, muitos dos quais têm um custo. A coleção de trabalhos que estou desenvolvendo no momento chama-se Love’s Ballast. É uma tentativa de imaginar um vocabulário de pele e de estruturas, porosas com as memórias de outros que vieram antes de mim. O trabalho foi criado durante um período da história da África do Sul em que o arquivo estava sendo revisto. Minha preocupação era que, nesse processo de revisão da história, o povo LBGT da África do Sul colonial e do apartheid fosse ignorado.
O outro aspecto de meu trabalho de criação, que tem a ver com o tema desta atividade, é meu trabalho como curador e designer de exposições no coletivo Trace. Muitas dessas exposições são ações ativistas em prol dos direitos e da história dos povos e comunidades LGBT.
A identidade (esse termo infelizmente tão repetido) é, sim, construída por termos como raça, gênero, geografia, classe e contexto cultural, mas minha principal preocupação é com a maneira como o amor — suas linguagens, representações, celebrações culturais e restrições fundamentalmente — constrói o eu, forma o corpo, determina suas ações e sua ocupação do espaço nos âmbitos corporal e espiritual.