"Sobre Humano parte de uma temporada na cidade do Rio de Janeiro, quando iniciei uma pesquisa sobre o homem contemporâneo, sua ancestralidade ou a origem do seu desejo de desenvolvimento.
A escala humana e arquitetônica da cidade. O alcance das coisas, as aproximações e distanciamentos, o corpo submetido a ele mesmo. A reinvenção de um novo tipo de corpo, um corpo mesmo que precário, mas, construído a todo custo.
A escada feita com ossos de boi é uma escultura quase-viva: respira, tem cheiro, gordura e se acomoda como um 'corpo-mole' sobre uma parede. Montada com arame e cola, ela parte da ideia de tentar construir uma 'nova ortopedia', criando formas de encaixe e articulações, como um 'novo corpo'.
Sobre Humano é sintoma de um sentimento em torno de uma ideia de desenvolvimento. A escada de osso não é uma abstração de um esqueleto animal, mas sim, de um esqueleto do desejo.
O cheiro do osso, a esqualidez do objeto, a precariedade estrutural da peça, pretende ser um convite à experiência, mais do que uma mera contemplação. Talvez o visível seja ativado de maneira muito simples, relacional.
O Rio de Janeiro como símbolo de uma 'nova América'. A idéia de crescimento do homem latino através de um novo mapa econômico mundial. A psicanálise, a meditação, a política ou qualquer outro tipo de 'escada' emocional.
O fato de ter sido produzida no bairro de Laranjeiras, ao pé do Cristo Redentor, faz do processo a 'alma' do projeto. Só mais tarde, um critico de arte fez referência às escadas que aparecem nas cenas religiosas.
Me interesso mais na experiência sensível e no processo, do que no resultado final. Por isso, o que impulsiona a criação desse trabalho é a experiência do lugar. No processual, as ficções se flexionam às histórias e suas narrativas."
Carlos Mélo em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)