"Me interesso pela história da América Latina, principalmente a do século 20, e venho tentando entender o presente e passado de meu país, a Colômbia. Acho que talvez eu consiga compreender o que aconteceu com a minha sociedade se olhar para o passado da minha região. Nesses processos estive buscando situações de guerra nas quais a arte esteve envolvida.
Eu gosto de olhar para o passado e aprender. Também gosto de copiar e remixar as imagens que já foram criadas. Atualizar o tempo colocando imagens antigas no presente. Assim, eu localizo a concepção desta obra com relação aos seguintes interesses: história, remixagem e montagem.
Sitiado se baseia em uma cena do filme Estado de Sítio (1972) de Costa-Gavras. Nesta cena, um esquadrão policial tenta silenciar a canção Hasta siempre comandante, composta pelo cubano Carlos Puebla, em 1965. A canção veio de um link para uma playlist que criei nos últimos anos, buscando músicas que foram censuradas por regimes militares.
Esse vídeo está em construção permanente. Para realizá-lo, busco documentos desclassificados, como por exemplo: os arquivos COMFER, que contêm músicas e artistas proibidos durante a última ditadura Argentina, bancos de dados online da última ditadura brasileira e pesquisas realizadas no Chile. O vídeo vai ficando mais longo, à medida que a investigação evolui.
Como cidadão, eu estou interessado na maneira como a arte esteve envolvida em situações políticas; como ela se tornou um fato politico em determinadas situações, além de ser uma ferramenta poética usada pelos artistas. Concordo com a citação de Godard, que diz: 'o problema não é fazer filmes políticos, mas fazer filmes politicamente'. Neste caso, estou buscando situações específicas nas quais a arte atua como um instrumento político que incita a sociedade a reagir e ajuda as pessoas a defenderem seu território (corpos, mentes, vidas), ocupados pelas forças armadas.
Em meu país, passei por diversas situações relacionadas à guerra política, que vivemos durante várias décadas. Da minha família aos meus amigos e colegas artistas às notícias cotidianas, é impossível não sentir a necessidade de fazer algo que sugira uma explicação para as nossas vidas. O contexto político não só interfere no desenvolvimento da obra, mas é também uma reação a isso.
Essa obra reflete meus sentimentos, uma necessidade de criar um mapa visual do meu horizonte."
Carlos Guzmán em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
