La Huella

2012
Tatiana Fuentes Sadowski
publicado em 21.09.2015
última atualização 21.09.2015

“Creio que La huella (A pegada) pode ser algo político, mas a maneira como atua é diferente. O filme percorre as coisas, movendo o interior de pequenos detalhes, gestos ou sons. Move desde o que há de menor para gerar algo. 

A forma como está filmado, com esses movimentos de câmera bastante lentos, não é para ressaltar a dor, essa nunca...


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“Creio que La huella (A pegada) pode ser algo político, mas a maneira como atua é diferente. O filme percorre as coisas, movendo o interior de pequenos detalhes, gestos ou sons. Move desde o que há de menor para gerar algo. 

A forma como está filmado, com esses movimentos de câmera bastante lentos, não é para ressaltar a dor, essa nunca foi minha intenção, senão talvez seja o tempo exato necessário que se tem de tomar para criar uma empatia com o drama que aí se revela; o tempo necessário para incorporar como espectador o drama das vítimas e produzir uma impressão que seja parte de uma mudança ou de um rastro.

Para fazer o filme consultei diversas vezes o Banco de Imagens recompilado pela Comissão da Verdade e da Reconciliação. O Banco reúne por volta de 1700 fotografias, provenientes de fontes bem diversas, como a imprensa, arquivos da igreja, dos militares, álbuns familiares ou álbuns de fotógrafos independentes.

A Comissão da Verdade e da Reconciliação foi um esforço realizado pelo estado peruano, em conjunto com diversas organizações e membros da sociedade civil, para compreender o conflito que vivíamos, um conflito extremamente doloroso. Sua criação só se tornou possível com a renúncia de Alberto Fujimori e a instauração de um governo transitório em que se tentava entender a guerra interna que assolava o Perú durante os últimos 20 anos. Guerra essa que deixou mais de 69 000 mortos, majoritariamente camponeses Quechuas vítimas de matanças e desaparecimentos forçados.

Para La huella, também escutei diversos depoimentos de familiares das vítimas nas Audiências Públicas realizadas em Ayacucho. Os depoimentos eram muito dolorosos e senti que não poderia trabalhar com eles como matéria direta. Diante da palavra do depoimento, sinto que não teria podido filmar nada. Decidi então ficar somente com as fotografias: ainda que também explícitas, a imagem me deixava uma margem de movimento, ou pelo menos de apropriação.  

Há uma postura ética muito importante, sobre como me aproximar dessas fotografias, como filmá-las. Não queria fazê-lo com uma postura de análise da história, nem de forma informativa, queria estar mais próxima da vibração que essas fotos produzem em mim, uma vibração que acho que tem a ver com o traumático, com reconhecer o humano nelas, o drama das vítimas. 

Para escrever as vozes que narram o filme, convidei José Pablo Baraybar, antropólogo forense que esteve bastante envolvido com as exumações e restituição de restos aos familiares das vítimas. Me pareceu ser um bom contraponto com as fotografias, já que sua voz era também um depoimento, mas não do ponto de vista das vítimas, senão como uma outra testemunha muito próxima e crucial para os familiares.

José Pablo tinha a visão de quem já havia visto de tudo, ou quase tudo, uma vez que havia trabalhado em diversos lugares em missões parecidas, como Sarajevo, Ruanda, Haiti e Somália. Acho que seu depoimento ajudou a revelar nas fotografias a sensação de vê-las pela primeira vez, de ser marcado por elas muito profundamente.

Como a voz de José Pablo contava em primeira pessoa, decidi que eu também faria o mesmo. As pessoas pensam que minha voz é também um depoimento, e não é verdade. Eu não vivi a perda direta de familiares e amigos durante esses anos. Ainda assim, me parecia que a primeira pessoa era o tempo correto, a primeira pessoa é o tempo do presente e do eu como enunciador, é o tempo de quem experimenta. E o texto narrado por mim está escrito segundo as impressões que tive olhando as fotografias.”


Tatiana Fuentes Sadowski em depoimento à PLATFORMA:VB (Julho 2015)


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Dados técnicos

La huella, 2012 | Vídeo, 18’
Tatiana Fuentes Sadowski

90 Segundos (20/11/2000) - Renuncia de Alberto Fujimori

Matéria sobre a renúncia do preseidente do Peru Alberto Fujimori em 2000

Ações VB
19º Festival
Anexos

Universo vídeo. An image of the World in Motion (2012), por Alfredo Aracil. (Laboral. Centro de Arte y Creación Industrial) [eng]
 

Peruvian dictator resigns: the fall of Fujimori, por Bill Vann (World Socialist Website, nov. 2000) [eng]

Peru: preso, Fujimori é internado por crise de hipertensão (Notícias Terra, abr. 2015) [pt]

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