“O filme é uma rara oportunidade de acesso a um dos locais mais impenetráveis do mundo, Pyongyang, a capital da Coréia do Norte. Lentamente, um fenômeno desconhecido dissolve esta cidade estranha, criando uma situação arquitetônica e metafórica inesperada.
Nasci na Romênia durante a ditadura comunista de Nicolae Ceausescu. Ceausescu foi um importante colaborador do fundador da dinastia stalinista norte-coreana, Kim II-Sung. Em minhas lembranças da infância naquele período há um estado de ausência quase constante: ausência de comida, de brinquedos, de todo tipo de entretenimento. O único entretenimento oficial eram as cerimônias públicas em homenagem ao nosso presidente: uma combinação de coreografias em massa extremamente complexas, canções patrióticas e glorificação da superioridade econômica e ideológica do Marxismo. Era uma avaliação diferente dos objetos, da organização e do tempo. Ao pesquisar as ditaduras contemporâneas, percebi que o que ainda acontece na Coréia do Norte é parecido com o regime totalitário sob o qual vivi os primeiros 9 anos de minha vida.
Apesar de seu contexto geopolítico em constante mudança, a Coréia do Norte é como um enclave de outro tempo, uma ilha ideológica vivendo num ritmo diferente, numa cronologia diferente. O culto extremamente enfático à personalidade de seus líderes alterou os conceitos de poder, divindade e estado. Em The reflection of power, o líquido que inunda é também um símbolo desta época diferente, de um passado oculto que ressurge e contesta a realidade.
O primeiro passo para a criação da obra foi uma pesquisa histórica sobre a Coréia do Norte e a ideologia Juche. Em primeiro lugar, precisei entender bem os monumentos de Pyongyang e seus significados. Em seguida, tive que descobrir a escala exata de cada escultura e obra arquitetônica para adaptar a simulação de computador em 3D a elas. De posse dessas informações, consegui recriar os prédios e estátuas em 3D da maneira mais fiel possível.
Outra parte importante do processo de criação da obra foi testar as simulações fluidas em 3D, como por exemplo recriar corpos d’água pequenos e grandes, texturas líquidas, reflexos etc. Foram necessárias horas e horas de testes desses elementos de computação para obter uma simulação convincente da água”.
Mihai Grecu em depoimento à PLATAFORM:VB (julho 2015)
