Excuse me, while I disappear

2014
Michael MacGarry
publicado em 21.09.2015
última atualização 21.09.2015

Excuse me, while I disappear é uma representação bastante abstrata e lírica de um contexto bem real e contestado (a cidade de Kilamba Kiaxi), situado num país um tanto complicado e dinâmico (Angola). 

Angola é um país fascinante com uma história moderna genuinamente única. Como sou sul-africano, quase fui enviado...


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Excuse me, while I disappear é uma representação bastante abstrata e lírica de um contexto bem real e contestado (a cidade de Kilamba Kiaxi), situado num país um tanto complicado e dinâmico (Angola). 

Angola é um país fascinante com uma história moderna genuinamente única. Como sou sul-africano, quase fui enviado ao país para lutar numa longa guerra, chamada Guerra da Fronteira, já que o governo do apartheid da África do Sul, juntamente com a CIA, enviou tropas para ajudar o exército rebelde UNITA a derrubar o MPLA marxista em Angola. O MPLA teve apoio significativo da USSR e de Cuba durante este conflito. A recente descoberta de depósitos substanciais de petróleo no litoral e a crescente capacidade de extração do país (a 2a maior da África) haviam alçado este isolado país ao cenário mundial, com enormes investimentos da R.P.C., e tornado Luanda uma das cidades mais caras do mundo. 

Produzi uma monografia fotográfica sobre a cidade e queria me concentrar mais de perto num único projeto ou contexto em minha segunda monografia. O filme Excuse me, while I disappear surgiu do tempo que passei documentando a cidade para esta monografia fotográfica. 

Kilamba Kiaxi é uma cidade nova de 500 000 habitantes perto de Luanda, Angola – construída pela construtora chinesa CITIC e financiada pelo China International Fund, de Hong Kong. Angola é uma país difícil de se filmar, e venho trabalhando lá desde 2009. Pesquisei a cidade exaustivamente antes de fazer o filme – principalmente usando o Google Earth, para ter uma boa noção do design local, e as redes sociais, para mensurar os sentimentos e pensamentos da população desta jovem cidade. 

A cidade é um dos lugares mais estranhos em que já trabalhei – produto de uma espécie de loucura, projetada por uma empreiteira chinesa com uma abordagem ao estilo de Broadacre City , na qual o carro é o único meio de transporte público, e importada para um contexto como Luanda, onde seu único propósito é a habitação. Não há cultura, cinemas ou museus e os teatros e mesmo as lojas existem em quantidade extremamente limitada. Não há empresas, apenas residências. A cidade parece um cenário de filme, como aquelas cidades dos bangue-bangues à italiana onde só as fachadas das casas eram construídas, sem nada por trás. Então, eu quis simplesmente registrar este cenário de filme gigantesco em seus próprios termos, usando o valor de produção inerente ao lugar tal qual o encontrei.

Trabalhei em Kilamba Kiaxi por 3 semanas para produzir Excuse me, while I disappear – simplesmente caminhando pelas ruas, com e sem o ator do filme. Conversei com muita gente: policiais, operários da construção civil chineses, o ator – foi um processo muito memorável e fértil que agora estou transformando numa publicação fotográfica monográfica. 

Acho que o processo de produzir, filmar, escrever e editar um filme sozinho é um modelo de trabalho complicado, mas que se presta bem ao tipo de filme que fiz. Este processo me permite encontrar o filme de uma maneira muito orgânica e baseada em pesquisa, sem muitas ideias, planos ou intenções predeterminadas – e reagir genuinamente à locação e ao ator. Neste sentido, o filme torna-se uma espécie de documentário sobre o que aconteceu num determinado dia, com base numa série de parâmetros que são tanto intencionais quanto simplesmente inerentes às circunstâncias. O contexto social e político é a base do meu trabalho.

Meu filme é ao mesmo tempo político e filosófico. O contexto social e político em que ele foi feito, ao qual se refere e com o qual conversa tem a ver com utopias fracassadas; as vidas bem 'reais' daqueles que estão sujeitos à estranha frieza da maior parte da arquitetura e planejamento urbano, bem como o fato de estarmos aparentemente condenados a ser eternamente assombrados pelo Modernismo.

Conceitualmente, o filme se ocupa da mecânica visual do cinema etnográfico europeu de meados do século passado, da ficção científica africana, do ‘Pitoresco Metropolitano’ e da perspectiva visual chinesa. No entanto, como fui totalmente responsável por todos os aspectos da produção deste filme, ele é uma expressão muito clara e sincera de minha poética idiossincrática e pessoal – uma expressão direta. Não sei bem se o filme levanta alguma questão em particular. Espero que ele funcione como um gesto, com base na compreensão de que por acaso, meu gesto é filosófico”. 


Michael MacGarry em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)


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Dados técnicos

Excuse me, while I disappear, 2014 | Vídeo, 19’10”
Michael MacGarry

Ações VB
19º Festival
Outras conexões

Country rises from ruins of strife, por Wang Bingfei (Africa Weekly, mai. 2014). [eng]

‘Oil for Housing’: Chinese-built New Towns in Angola, por David Benazeraf & Ana Alves (The Global Powers and Africa Programme, abr. 2014). [eng]

Anexos

Livro fotográfico monográfico que o artista está produzindo [abril de 2015], com fotos e alguns textos com ideias levantadas pelo filme

Primeiro projeto feito pelo artista antes da produção do filme – “o documento mostra uma ideia básica, mas o filme pronto é muito diferente deste primeiro esboço”, esclarece o artista. [eng]

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