Trans Amazônica

2013
Luciana Magno
publicado em 21.09.2015
última atualização 21.09.2015

"Trans Amazônica foi pensado dentro da série Orgânicos, desenvolvida na bolsa de criação e experimentação do Instituto de Artes do Pará, entre 2013 e 2014. Fiz uma espécie de mapeamento cartográfico afetivo do Pará, da relação do homem com a natureza, do uso da terra e de algumas especificidades...


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"Trans Amazônica foi pensado dentro da série Orgânicos, desenvolvida na bolsa de criação e experimentação do Instituto de Artes do Pará, entre 2013 e 2014. Fiz uma espécie de mapeamento cartográfico afetivo do Pará, da relação do homem com a natureza, do uso da terra e de algumas especificidades geográficas dentro do estado, que é o segundo maior do Brasil. 

Trans Amazônica tem o mesmo nome da rodovia, a Transamazônica, que é o principal acesso terrestre aos estados do Pará e do Amazonas, os dois maiores do Brasil, que juntos ocupam cerca de 50% do território total da Amazônia legal. Essa rodovia traz no histórico, desde o seu planejamento, o discurso integracionista que encobre os desejos de exploração dos recursos da Amazônia. Durante o projeto, foi por ela que chegamos, eu e os membros da minha equipe, Luciana Lemos e Rafael Gomes, à região do Rio Xingu, que na época estava em ebulição, com uma série de conflitos em função da construção da usina Belo Monte

Foram percorridos 500 km de Marabá a Altamira, mais de dois dias de estrada em péssimas condições e, no meio daquela poeira toda, era tudo muito claro: por ali passavam os milhares de caminhões que levavam suprimentos e combustível  para as cidades e, era por aquela estrada que os mesmos caminhões voltavam atolados de madeira, minério, animais ou algum recurso natural. 

No percurso, a paisagem era formada por horas e horas de pastagens de gado, com pequenas pausas para áreas de preservação indígena, únicos locais onde ainda havia a cobertura da vegetação original da Amazônia. Esses pequenos territórios foram preservados a custa de muito trabalho de conscientização e luta física, pois a maioria dos indíos foram assassinados ou expulsos da região durante a construção da rodovia. A transamazônica é uma cicatriz aberta no Brasil, lá tem uma energia maluca, que causa medo nas pessoas.  Durante o percurso sentíamos que estávamos andando em uma "terra de ninguém" e foi dessa energia que nasceu Trans Amazônica - um vídeo de um minuto em loop que cobre de poeira um corpo em posição fetal, tal qual se nasce e se morre de acordo com alguns costumes indígenas, e que aos poucos vai revelando a paisagem totalmente modificada. O trabalho transita entre a ficção e a realidade, porque a realidade histórica do Brasil é ficcional. E a ficção é uma forma sutil de deglutir a realidade."


Luciana Magno em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)


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Dados técnicos

Trans Amazônica, 2013. Da série Orgânicos | Vídeo, 1’11”
Luciana Magno

Ações VB
19º Festival
Outras conexões

Trans Amazônica foi pensado dentro da série Orgânicos, que parte da ideia de que o corpo é também natureza, carbono. Composto pelas mesmas substâncias, nosso sistema tem apenas uma forma diferente de organizar as partículas, ordenadas em matéria pensante. Temos um sistema entre tantos outros inúmeros tipos de matéria orgânica e essa matéria é cíclica e respeita um ciclo espectral, transcendental, que corresponde a carga do tempo, a uma energia muito forte que se renova sem deixar de ter memória. Esse ciclo equivale, de alguma forma, ao ciclo da vida no pensamento zen, da matéria, da consciência.”

Anexos

Projeto Transamazônica: Uma ferida na selva intocada, por Maurício Neubson Medeiros Gonçalves, Rosiane Amorim de Castro, Marcos Sousa da Silva (61ª Reunião Anual da SBPC). [pt]
 

A batalha de Belo Monte (Folha de S.Paulo, 2013). [pt]
 

Belo Monte, uma usina de promessas, por Dal Marcondes (CartaCapital, jun. 2015). [pt]
 

 

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