"The Soundless Spectre of Motion (O espectro silencioso do movimento) é o resultado de muitos anos trabalhando com animação, explorando sua lógica e seus processos de modo que pudesse usar a estrutura narrativa para revelar e dramatizar uma posição dentro do próprio trabalho e de seu contexto social.
Meu processo é bem intuitivo; a obra e sua lógica se desenvolvem lentamente ao longo do tempo. Eu crio agrupamentos de objetos usando materiais cotidianos e desenhos que podem ser usados nas animações ou funcionar como obras em si. Como estou trabalhando com animação, principalmente neste projeto, tive que lidar com ideias relacionadas à função da ilusão, transformação, a convergência de realismo e fantasia, a animação da vida e a reanimação dos mortos.
Me inspirei nos escritos do Dr. Alan Cholodenko, um teórico que escreveu muito sobre o cinema como forma de animação e sobre a experiência incrível da animação como resultado de sua condição paradoxal – a (im)possibilidade de trazer morte à vida e vida à morte, a ilusão dessa ideia.
Como um projeto periférico desse vídeo, coloquei um anúncio no Craigslist com a pergunta: ‘Você gostaria de ser fotografado com um espectro?’. Acabei fotografando uma das pessoas que responderam: Susie Kahlich, escritora e colaboradora de The Order of the Good Death (A Ordem da Boa Morte), um blog cuja missão é promover a inclusão da morte e dos mortos. Posteriormente, ela escreveu sobre a atração da morte como espetáculo na Paris histórica.
O título da obra, The Soundless Spectre of Motion, faz referência às primeiras frases de uma crítica de Máximo Gorki a uma exibição dos irmãos Lumière, em 1896: 'Ontem à noite eu estive no Reino das Sombras. Se vocês soubessem como é estranho estar lá... É um mundo sem som, sem cor. Tudo ali – a terra, as árvores, as pessoas, a água e o ar – está imerso em um cinza monótono. Raios de sol cinza no céu cinza, olhos cinza em rostos cinza e as folhas das árvores são de um cinza pálido. Não é vida e sim a sombra da vida, não é movimento e sim seu espectro silencioso...'
Suas observações constituem um dos primeiros escritos em que a visão do cinema aparece como uma dimensão de morte; elas se opõem à ideia das imagens cinematográficas como representações ‘vivas’. Gorky descreveu o choque de ver a incrível ‘essência’ da animação dando vida às imagens. Em seu texto, ele quis criticar uma tecnologia que considerou sinistra e deprimente, mas a experiência que descreveu foi considerada fascinante pelo público da época. Isto fica evidente na popularidade imensa dos shows fantasmagóricos que transformavam a invocação de fantasmas de pessoas mortas ou ausentes em uma atração, ocultando a ação e o aparato humano envolvido em sua produção."
Bridget Walker em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)