“Zoo lida com fricções e questões filosóficas. Propõe um embaralhando de posições e fronteiras que as vezes se engessam. O deslocamento do animal do seu habitat natural proporciona isso, um curto circuito na realidade. Dizemos: esse é o lugar do homem, aquele é o lugar do animal. Somos radicalmente opostos por isso. Mas por...
Fotografia da série Zoo, 2014

Fotografia da série Zoo, 2014

Fotografia da série Zoo, 2014

Fotografia da série Zoo, 2014

Fotografia da série Zoo, 2014

Fotografia da série Zoo, 2014

“Zoo lida com fricções e questões filosóficas. Propõe um embaralhando de posições e fronteiras que as vezes se engessam. O deslocamento do animal do seu habitat natural proporciona isso, um curto circuito na realidade. Dizemos: esse é o lugar do homem, aquele é o lugar do animal. Somos radicalmente opostos por isso. Mas por que é assim? Não somos nós também animais? O que nos aproxima? O que há deles em nós? O animal também não carrega muito do mistério humano?
A questão do animal e, mais especificamente, da animalidade é algo que interessa aos artistas, escritores e filósofos há bastante tempo. Portanto não é uma questão particular, é um problema filosófico. Temos Kafka, Bataille, Deleuze, Coetzee, Derrida, Guimarães Rosa e tantos outros tratando disso. O que me interessava era justamente trazer o animal, no caso um animal selvagem, silvestre, para dentro de um ambiente doméstico, onde potencialmente estaríamos mais a vontade enquanto humanos. Isso, para voltar a discutir, através da imagem e do ato que a origina, onde nos localizamos enquanto homens e animais.
Essa é a primeira vez que trabalho com uma estrutura maior, com uma equipe. Com pesquisa, produção e tal. Mas acho que muitas das questões que estão em Zoo já apareciam em outros trabalhos como Metamorfose (2012), Vade Retro (2013) e Redemunho (2006). A forma operacional que é bem diferente.
Foi necessário um trabalho de pesquisa e produção que nos levou a alguns criatórios. A maioria das fotografias foram tiradas em Minas Gerais e a maior dificuldade foi encontrar um animal que desse para deslocar para uma locação e que pudesse ser fotografado em segurança. E essa questão independe da espécie, é caso a caso, porque as vezes o macaco daqui dá para fotografar e o de outro lugar não. Quem conhece melhor o animal são os criadores, por isso esse é um trabalho feito com a ajuda deles.
Claro que há sempre uma boa dose de risco envolvida e isso é importante para o trabalho. Por mais que esses animais tenham algum contato com humanos, eles não vivem dentro de casas. Se esse deslocamento muda completamente o eixo do nosso instinto, isso também se aplica ao animal. O comportamento de ambos, homem e animal, nessa situação, é imprevisível.
O trabalho funciona então como o testemunho de um ato. Para mim é muito importante que estejamos presentes eu e o animal, um de frente para o outro, se interrogando em silêncio, como quem diz: e agora? Estar face a face com um animal nos faz retornar a algo primitivo, ancestral e, talvez, quem sabe, por um breve instante nos transformamos em uma onça, um tatu, um tamanduá.”
João Castilho em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)
- Dados técnicos
Zoo, 2014 | Fotografia
João Castilho
O Futuro Avança Para Trás (2014) | João Castilho
O Futuro Avança Para Trás, individual de João Castilho (Celma Albuquerque Galeria de Arte, set. 2014)
- Ações VB
- 19º Festival
- Outras conexões
O ensaio Zoo foi um dos projetos contemplados pela primeira edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS (2013) [pt]
- Anexos
Sou bicho com H, por Christian Carvalho Cruz (Jornal Estado de SPaulo, maio 2014) [pt]