Topos_somedrama

2015
Débora Bolsoni
publicado em 21.09.2015
última atualização 21.09.2015

"Topos_some drama surgiu de um acúmulo de vontades que foram tomando forma durante uma pesquisa de dois anos. Neste período realizei uma revisão da minha produção e da obra de outros artistas históricos, com quem gostaria de dialogar de forma mais evidente e também prestar homenagem. Como não havia qualquer compromisso que orientasse...


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"Topos_some drama surgiu de um acúmulo de vontades que foram tomando forma durante uma pesquisa de dois anos. Neste período realizei uma revisão da minha produção e da obra de outros artistas históricos, com quem gostaria de dialogar de forma mais evidente e também prestar homenagem. Como não havia qualquer compromisso que orientasse o tempo de pesquisa, essa obra pôde chegar ao seu estado mais maduro sem atropelos.

A exploração da materialidade da areia e sua possibilidade de refeitura constante havia ficado latente desde a experiência com a instalação Margem realizada para a mostra Absurdo na 6a Bienal do Mercosul (2009). Na ocasião, acho que não encontrei a melhor forma para expor todas as questões suscitadas pela instalação, e sentia uma necessidade de retomar a areia como matéria prima de uma nova obra.  

Desde o título, à materialidade e à forma de Topos_some drama concorrem para sua filiação com os discursos sobre o tempo, a memória e a história. A areia é um elemento que se relaciona com nossa experiência de tempo e paisagem. Topos trata de um lugar, um marco físico, uma singularidade especial. Some drama anuncia algo da impotência deste Topos, de sua condição dramática, que surge como marco, mas sem qualquer promessa de permanência. 

 A escala da obra também a deixa num lugar ambíguo, entre objeto e escultura, como maquete de monumento. O escalonamento dos discos de isopor é o elemento que remete mais diretamente ao projeto de monumento, reverberando as imagens do Monumento a Terceira Comunista, de Tatlin. Mas também lembra um grande bolo de noiva – forma que ilustra certo procedimento em arte ligado aos apelos decorativos. O isopor reforça esse universo por se tratar de um material artificial. Esses dados vão na contramão do purismo estético de total fusão de forma e conteúdo - herança moderna que o monumento de Tatlin encerraria. Mas, estas forças antagônicas no interior da obra são características da peça e do seu próprio drama, e evidenciam embates estéticos historicamente não resolvidos e suas repercussões políticas.   

Nos últimos anos, o Brasil viveu um momento paradigmático de revisão de sua identidade frente à comunidade internacional. Apesar de uma série de acontecimentos terem dimensões inaugurais, a cena política nacional parecia cercada de fantasmas de um outro momento histórico, mais precisamente dos primeiros anos da década de 60. Essa experiência tem emprestado um sentido também fantasmagórico pro fazer artístico.  Não consigo deixar de pensar a partir do desenrolar político do país, desde minha infância na década de 1970, à formação universitária em artes na virada dos 1990. Uma série de valores apreendidos neste processo tem sido revistos e tenho sentido cada vez mais a necessidade de nomear e localizar melhor os agentes da minha formação em artes. Acho que este processo influiu de forma determinante na criação dessa obra."


Débora Bolsoni em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)


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Dados técnicos

Topos_somedrama, 2015 | Escultura
Débora Bolsoni

Death in Venice (1971) | Luchino Visconti

O filme foi uma referência que impulsionou a criação do trabalho

Ações VB
19º Festival
Outras conexões

“O filme Morte em Veneza de Luchino Visconti, baseado na obra homônima de Thomas Mann; o Monumento a Terceira Internacional Comunista, de Vladimir Tatlin; minha instalação Margem, realizada para a 6 Bienal do Mercosul; além da pesquisa de materiais em torno dos tipos de areia que se utiliza para moldagem (desde as massas para taipa, até as usadas em fundição, utilizadas no projeto final) foram as referências que impulsionaram a criação desse trabalho.”

Anexos

Apresentação da obra

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