"Há algum tempo em Amsterdã, fiz um curso de escalada na Klimhal, academia de escalada que mais tarde foi o cenário de Ahold of Get the Things To. A arquitetura meio bruta desta academia de escalada certamente era uma motivação quando chegava a hora de desafiar a gravidade, pendurado naquelas paredes inclinadas. Escalada não é nada fácil, mas a sensação de estar rodeado por este lugar gigantesco, que se parece um pouco com um observatório de estrelas feito de pedra, já era bastante gratificante.
Durante o curso, percebi que a escalada exige mais estratégia do que força. Uma rota de subida é uma operação meticulosamente estudada, que você precisa visualizar antes de começar, e então realizar de modo eficiente. Eu quis repetir esta abordagem em meu filme. Por isso, o roteiro foi escrito como uma rota de escalada: uma performance precisamente sincronizada para três personagens que iriam de uma escalada para outra enquanto narram a história.
Há um aspecto processual neste trabalho do qual gostei muito. Muitas escolhas decisivas vieram de trabalhar coletivamente, que é algo que tenho tentado fazer cada vez mais ultimamente. O fato de ter trabalhado com meu amigo Andrew de Freitas na câmera e com a jovem compositora estoniana Liisa Hirsch enriqueceu muito o projeto. Eu nunca tinha usado filme analógico (16 mm) ou composto uma trilha original, então não tive opção senão confiar cegamente em minha equipe. Isso pode parecer assustador, mas na verdade foi muito libertador. Tanto que, de certo modo, eles acabaram se tornando personagens do filme. Para enfatizar isso, criei uma série de pôsteres nos quais retratei os três membros da equipe – inclusive eu mesmo – como protagonistas de um filme de ficção intitulado The Hold, que é mencionado em meu filme.
Ahold of Get the Things To possui um grau de complexidade excessiva que amo e odeio ao mesmo tempo. O filme tornou-se uma espécie de quebra-cabeças esperando para ser solucionado – até mesmo para mim. Há alguns detalhes e gestos insignificantes que são impossíveis de registrar quando se assiste pela primeira vez. Muitos deles são mencionados brevemente, mas não são muito desenvolvidos. Através dos trabalhos que se seguiram ao filme – isto é, esculturas, imagens, objetos encontrados, instalações, pôsteres de filmes fictícios – tentei explorar mais estes elementos em aberto que o filme introduz de passagem. Não tanto para tentar esclarecer as coisas nessas novas instâncias, mas só para criar familiaridade com uma espécie de vocabulário próprio. Todos esses elementos criam uma rede de conexões, sem necessariamente dar sentido a tudo."
Daniel Jacoby em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)