“Na videoinstalação Zero Latitude, quero enfatizar o espaço fictício que é imaginado no Equador — onde a figura histórica de Pierre Savorgnan de Brazza torna-se um figurante fictício da narrativa que é criada.
A África Equatorial torna-se a metáfora da África Subsaariana na qual se baseia a mitologia popular sobre o continente. E o Congo torna-se a representação da África no imaginário ocidental. Dos primeiros relatos de exploradores às incontáveis obras cinematográficas e literárias, o Rio Congo oferece não só um local físico de acesso do Atlântico à África Central, como um acesso imaginário ao mundo ocidental.
Em Zero Latitude, o explorador De Brazza torna-se um personagem ou arquétipo do explorador. Há uma tensão entre o lugar real e o imaginário e, ao estabelecer uma relação, você encontra outros — como o personagem arquetípico do explorador, De Brazza, e sua bagagem cultural e consumível, além de histórias do Rio Congo.
Minha prática atual advém de um ato de modelagem, da habilidade de ser versipellis [capacidade de mudar de forma, de se transformar ou de alterar sua aparência]. Isto se relaciona com a lógica do ilusionismo e evoca as histórias do trompe l'oeil, do cinema narrativo e da fotografia de estúdio. O ilusionismo em meu trabalho se estende ao universo da ficção, remetendo a figuras históricas como De Brazza.
Pierre Bourdieu descreve o conceito de “illusio” como a disposição de participar coletivamente no “jogo” da sociedade — aceitando certos sistemas de poder e ficções. Através desses personagens, meu trabalho recente destaca essas ficções que apontam para fronteiras formais, sejam elas econômicas, políticas, geográficas ou mitológicas. Ao se desenhar uma linha imaginária, o limiar, o ponto zero, a cena é preparada e sanciona a ação que se desenvolve com um grande elenco de figuras históricas.”
Bianca Baldi em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)