The Disquiet

2013
Ali Cherri
publicado em 21.09.2015
última atualização 21.09.2015

"De tempos em tempos ouvimos notícias de um leve terremoto no Líbano. Em alguns casos, os habitantes sentem os tremores; em outros, sismógrafos os registram, mas ninguém sente nada. Fui me interessando cada vez mais pelo que acontece sob nossos pés. Eu queria explorar a história sísmica do país e da região e descobrir qual era...


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"De tempos em tempos ouvimos notícias de um leve terremoto no Líbano. Em alguns casos, os habitantes sentem os tremores; em outros, sismógrafos os registram, mas ninguém sente nada. Fui me interessando cada vez mais pelo que acontece sob nossos pés. Eu queria explorar a história sísmica do país e da região e descobrir qual era o perigo real. 

Quando comecei a procurar imagens de arquivo de terremotos do passado, principalmente os ocorridos em 1952 e 1997, fiquei impressionado com a semelhança entre as imagens da destruição e as imagens do Líbano devastado por 17 anos de guerra civil. Este paralelo entre os dois tipos de destruição, um deles natural e o outro causado pelo homem, me levou a questionar o que havia em comum entre essas duas catástrofes. O que, em essência, as tornava semelhantes?

Em meu trabalho, não dissocio tema e forma, já que ambos geralmente estão relacionados. Em The Disquiet, eu quis brincar com a estética do documentário, me distanciando dela e adotando uma forma mais contemplativa de narração e filmagem. Embora o tema do filme pareça advir de uma busca científica pela compreensão da história sísmica do Líbano, a motivação por trás deste trabalho é analisar os conflitos políticos que abalam o país e a região. 

Eu queria me voltar para a ciência. A ciência supostamente deve nos dar fatos, respostas, números. Pensei que, se nossas catástrofes políticas parecem incompreensíveis, talvez fosse mais fácil “entender” nossas catástrofes naturais. Eu quis observar sismógrafos e telas de computador registrando os movimentos das placas tectônicas. 

Terremotos, tremores, vibrações, vacilações, oscilações, chacoalhões e outros movimentos, quando registrados na tela do sismógrafo ou na memória do corpo, nos transformam em testemunhas. Somos capazes de perceber a diferença entre desastres naturais – um terremoto ou um tsunami, um evento imprevisível ao qual não temos escolha senão nos submeter – e aqueles causados pelo homem – um ato de terrorismo, uma falha no sistema de segurança de uma usina nuclear ou uma crise financeira. Todos esses eventos têm seu lugar no espectro de risco, mas o desastre propriamente dito, em todas as suas formas, é sempre o mesmo. Se o desastre, em sua própria etimologia, se refere à ideia de ter nascido sob uma “estrela ruim” (dis-astro), proclamando um destino amaldiçoado, selado, a catástrofe também se volta para si mesma (kata-strophê). Trata-se não só de uma inversão, mas também de algo que retorna, que se repete infinitamente, teimosamente, irrevogavelmente. 

Longe de criar representações apocalípticas, o que quero tornar visível e poético é o caos de um mundo em declínio, seus movimentos, tremores, vacilações e quedas. As palavras de Walter Benjamin em seu texto O Caráter Destrutivo ressoam nesta tentativa: “O que existe ele reduz a escombros – não pelos escombros, mas pelo caminho que as atravessa”. [Reflexões, Ensaios, Aforismos, Escritos Autobiográficos (1986), por Walter Benjamin]"


Ali Cherri em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)


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Dados técnicos

The Disquiet, 2013 | Vídeo, 20’
Ali Cherri 

Ações VB
19º Festival
Anexos

In the presence of a catastrophe, por Natasa Petresin Bachelez (Lest the Two Seas Meet, Museu de Arte Moderna de Varsóvia, Polônia, 2015) [eng]

On Things that Move, exposição individual de Ali Cherri (Galerie Imane Farès, Paris, França, 2014) [eng]

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