"De tempos em tempos ouvimos notícias de um leve terremoto no Líbano. Em alguns casos, os habitantes sentem os tremores; em outros, sismógrafos os registram, mas ninguém sente nada. Fui me interessando cada vez mais pelo que acontece sob nossos pés. Eu queria explorar a história sísmica do país e da região e descobrir qual era...
"De tempos em tempos ouvimos notícias de um leve terremoto no Líbano. Em alguns casos, os habitantes sentem os tremores; em outros, sismógrafos os registram, mas ninguém sente nada. Fui me interessando cada vez mais pelo que acontece sob nossos pés. Eu queria explorar a história sísmica do país e da região e descobrir qual era o perigo real.
Quando comecei a procurar imagens de arquivo de terremotos do passado, principalmente os ocorridos em 1952 e 1997, fiquei impressionado com a semelhança entre as imagens da destruição e as imagens do Líbano devastado por 17 anos de guerra civil. Este paralelo entre os dois tipos de destruição, um deles natural e o outro causado pelo homem, me levou a questionar o que havia em comum entre essas duas catástrofes. O que, em essência, as tornava semelhantes?
Em meu trabalho, não dissocio tema e forma, já que ambos geralmente estão relacionados. Em The Disquiet, eu quis brincar com a estética do documentário, me distanciando dela e adotando uma forma mais contemplativa de narração e filmagem. Embora o tema do filme pareça advir de uma busca científica pela compreensão da história sísmica do Líbano, a motivação por trás deste trabalho é analisar os conflitos políticos que abalam o país e a região.
Eu queria me voltar para a ciência. A ciência supostamente deve nos dar fatos, respostas, números. Pensei que, se nossas catástrofes políticas parecem incompreensíveis, talvez fosse mais fácil “entender” nossas catástrofes naturais. Eu quis observar sismógrafos e telas de computador registrando os movimentos das placas tectônicas.
Terremotos, tremores, vibrações, vacilações, oscilações, chacoalhões e outros movimentos, quando registrados na tela do sismógrafo ou na memória do corpo, nos transformam em testemunhas. Somos capazes de perceber a diferença entre desastres naturais – um terremoto ou um tsunami, um evento imprevisível ao qual não temos escolha senão nos submeter – e aqueles causados pelo homem – um ato de terrorismo, uma falha no sistema de segurança de uma usina nuclear ou uma crise financeira. Todos esses eventos têm seu lugar no espectro de risco, mas o desastre propriamente dito, em todas as suas formas, é sempre o mesmo. Se o desastre, em sua própria etimologia, se refere à ideia de ter nascido sob uma “estrela ruim” (dis-astro), proclamando um destino amaldiçoado, selado, a catástrofe também se volta para si mesma (kata-strophê). Trata-se não só de uma inversão, mas também de algo que retorna, que se repete infinitamente, teimosamente, irrevogavelmente.
Longe de criar representações apocalípticas, o que quero tornar visível e poético é o caos de um mundo em declínio, seus movimentos, tremores, vacilações e quedas. As palavras de Walter Benjamin em seu texto O Caráter Destrutivo ressoam nesta tentativa: “O que existe ele reduz a escombros – não pelos escombros, mas pelo caminho que as atravessa”. [Reflexões, Ensaios, Aforismos, Escritos Autobiográficos (1986), por Walter Benjamin]"
Ali Cherri em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)
- Dados técnicos
The Disquiet, 2013 | Vídeo, 20’
Ali Cherri
- Ações VB
- 19º Festival
- Anexos
In the presence of a catastrophe, por Natasa Petresin Bachelez (Lest the Two Seas Meet, Museu de Arte Moderna de Varsóvia, Polônia, 2015) [eng]
On Things that Move, exposição individual de Ali Cherri (Galerie Imane Farès, Paris, França, 2014) [eng]