Tomo

2012
Bakary Diallo
publicado em 13.05.2013
última atualização 09.01.2015

"Os desafios geopolíticos, geoestratégicos, a ditadura, as guerras fratricidas e todo o tipo de insensatez de algumas elites governantes fizeram, e fazem, da África o berço de agitações de diversas ordens, como a guerra, o genocídio e outras formas violentas de opressão.

Mas, deve-se saber que em toda situação...


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"Os desafios geopolíticos, geoestratégicos, a ditadura, as guerras fratricidas e todo o tipo de insensatez de algumas elites governantes fizeram, e fazem, da África o berço de agitações de diversas ordens, como a guerra, o genocídio e outras formas violentas de opressão.

Mas, deve-se saber que em toda situação de guerra e de instabilidade, a qual somos submetidos ou que submetemos o outro, ninguém é poupado, independentemente da posição. Porque somos apenas seres humanos.

Tomo evoca a língua bambara [idioma falado no Mali] de forma literal: um território abandonado por causa da guerra. Conflitos armados e conflitos mentais. Aquele que vem e guia o espectador pelo filme está reduzido a um braço que apresenta um olhar transtornado. Ele se move a passos frenéticos de animal acossado, atravessando lugares vazios e encontrando somente fantasmas e sinais de abandono. Esse filme simboliza o 'tout blessé' [todo ferido], ou seja, as feridas no corpo e as feridas na mente.

Em Tomo, a ação se desenrola em um universo onde os vivos desapareceram, substituídos por ectoplasmas em um simulacro da vida. Tomo trata da guerra em geral, e usa a ruralidade do Mali como um pano de fundo neutro para a perturbação que a guerra causa a todas as psiques do mundo. A violência, quando passa, destrói tudo ao seu redor, tanto no plano físico quanto mental. É um caminho deserto e sem esperança.

Para marcar essa violência complexa, utilizo objetos, cortes, estrondos, resfôlegos, pequenos sons da vida, o barulho do vento, sons de percussão, cantos, a crepitação do sol e do fogo. Fantasmas de chamas e fumaça realizam ações cotidianas no lugar dos seres vivos, próximos da realidade.

O filme reivindica a não-violência, não contém imagens sangrentas e se desenrola em uma narrativa essencialmente expressiva sem cair no psicologismo ou em questões morais. Tomo se abre ao stress mental, à fuga vã e desesperada, e à alienação coletiva. Sua força e poder de perturbação se devem a uma construção na qual três níveis de espaço-tempo estão em perpétua conspiração: o passado, a alucinação, a realidade. O espectador fica, ao mesmo tempo, lado a lado com espectros em chamas, sua interioridade, e os mundos invisíveis."


Bakary Diallo em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Tomo (2012) | Bakary Diallo
Vídeo | 6’53”, estéreo, cor, 16 : 9

Excerto da obra

Depoimento Bakary Diallo | 18º Festival

O artista fala de sua obra no contexto da guerra e da situação de instabilidade em sua terra natal, o Mali. Afirma que seu vídeo é uma denúncia da violência que abate e divide esse povo e que provoca uma espécie de perda de si, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico nessa população

Tomo - La violence vue d'un œil contemporain (2013)

Entrevista de Baraky Diallo (Alqara TV, abr. 2013) [fr]

 

Hotel Rwanda (2004) | Terry George

Referência para a realização de Tomo (2012).

 

Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives (2010) | Apichatpong Weerasethakul

"Tomo se inspira neste filme ao atribuir aos fantasmas uma outra função além de assustar os outros", explica Bakary Diallo. [eng]

 

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

Link para assistir a Tomo (2012)


"Esse projeto tem como referência trabalhos realizados por fotojornalistas como Eugene Richards, célebre autor do livro War is personal (2010) ou filmes como Hotel Ruanda (2004), de Terry George. Mas, ele se deve sobretudo a minha participação, em abril de 2006, na conferência internacional interdisciplinar, Les mots du génocide au Rwanda: lire écrire et comprendre (As palavras do genocídio em Ruanda: ler escrever e entender), realizada em Kigali, Ruanda", explica Bakary Diallo.

 

"Em Tomo, o personagem e único sobrevivente, nos lembra da catástrofe natural ocorrida na Itália durante a antiguidade, quando Pompeia sucumbe à eupção do Vesúvio, deixando para trás pilhas de corpos esculpidos e fantasmagóricos."

 

Relatório sobre os distúrbios psíquicos gerados pelas guerras, organizado por Serge Bornstein (Neuropsychiatrie, n. 34, set. 1986) [fr] 

 

Carnages. Les guerres secrètes des grandes puissances en Afrique (2010), de Pierre Péan. Segundo Bakary Diallo, trata-se de um livro "que lança uma enquete sobre o papel dos EUA, da Grã-Bretanha e de Israel nas guerras africanas, incluindo as teorias acerca dos genocídios em Rwanda e Darfour."

 

République démocratique du Congo, la plus grande guerre d'Afrique, tradução do original Africa's Great War, por Sven Torfinn (The Economist, jan. 2003) [fr]

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