"Vera Cruz foi concebido como um documentário impossível. Os diálogos que constituem o texto-legenda do vídeo foram criados a partir do conteúdo da carta que Pero Vaz de Caminha escreveu para o Rei Dom Manoel I, o Venturoso, relatando os primeiros 10 dias passados na costa brasileira, quando do 'descobrimento' do Brasil, em 1500. Tentei não deixar escapar nenhum detalhe descritivo da carta, por isso o vídeo é um média-metragem: 44 minutos. Os únicos diálogos que não são provenientes dos relatos contidos na carta são os que tratam da navegação marítima, propriamente dita. Estes foram criados a partir da linguagem própria da navegação em embarcações a vela, feitos com o apoio de um velejador.
Foi meu primeiro trabalho realizado em vídeo e assim foi feito porque me parecia a única maneira de lidar com o conteúdo da carta de Caminha, na época. Ele foi comissionado para uma exposição coletiva de obras baseadas em releituras daquela carta. Foi feito como resposta às comemorações dos 500 anos de nossa descoberta, com todo o humor que me era possível. Como foi a única obra gerada em vídeo, foi muito mal recebida pela curadoria. Como em algumas outras ocasiões, esse trabalho foi compreendido apenas um tempo depois.
A história está sempre ancorada nos documentos e as imagens são parte integrante e importante deles. Entretanto, qualquer investigação feita a partir de documentos antigos e vestígios de um tempo remoto é sempre lacunar. A história não está o tempo todo sendo revista e ampliada? Então, não seria diferente no nosso vasto continente americano, onde o europeu sempre tentou minimizar a importância de tudo o que era pré-colombiano. O que acontece é que muitas vezes instituições e poderes vigentes se utilizam da precariedade e das lacunas para reescrever ou editar a história segundo agendas específicas e é justamente isso que deve tornar-se objeto de observação, pesquisa e até denúncia.
O vídeo Vera Cruz foi mostrado em diversas exposições internacionais e, entre elas, na exposição intitulada Nous venons en paix — Histoires des Amériques, no Museu de Arte Contemporânea de Montreal, Canadá, onde o curador Pierre Landry tratava justamente do questionamento e da reinvenção da nossa abordagem da História, através das obras de artistas de países latino e norte-americanos. Alguns trabalhos meus trazem reflexões sobre esse assunto, como o Vera Cruz, Cicatriz (fotos de tatuagens e cabeças, da coleção do Museu Penitenciário Paulista), Imemorial, Candelária, Cartologia, os livros sobre os furtos da Biblioteca Nacional e do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro."
Rosângela Rennó em depoimento à PLATAFORMA:VB (agosto 2014)
Patos de Minas, 25 de novembro de 2014 Prezada:Rosângela Rennó Gostei muito da sua entrevista muito bom mesmo. concordo com você de não falar da globalização, a verdade esta longe de globalização com tantas deferências e intolerantes, precisamos aprender a viver com a intolerantes e as diferencias dos seres humanos, e nós temos trabalhar com todas as ferrantes do nós tempo. Um abraço para você muito sucesso a sua carreira eu sou mineiro também, e admiro o seu trabalho. José Vilmar da Silva