My possession

2005
Mwangi Hutter
publicado em 13.08.2014
última atualização 28.08.2014

"My Possession, como o próprio título diz, tem a ver com o significado das palavras “posse-possessão”. Uma delas significa tomar posse de seu próprio corpo, tentando enxergar como as questões sociais e políticas – por exemplo, referências históricas como o pós-colonialismo ou nossa história pessoal...


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"My Possession, como o próprio título diz, tem a ver com o significado das palavras “posse-possessão”. Uma delas significa tomar posse de seu próprio corpo, tentando enxergar como as questões sociais e políticas – por exemplo, referências históricas como o pós-colonialismo ou nossa história pessoal – existem dentro do corpo. A outra se refere à realidade mística, porém verdadeira de estar possuído, de que algo tem sua posse – um sistema de violência, por exemplo. Queríamos incluir esses dois significados no trabalho: o estado de ter, possuir e controlar algo, mais especificamente seu próprio corpo e mente, e a sensação oposta, de ser controlado por uma força externa, representada pela ideia de estar possuído.

Hoje em dia, temos informações em massa sobre a violência, sobre o que está acontecendo no mundo. Acho que no passado havia um certo conhecimento e informação sobre a violência, mas nada tão direto e consistente quanto o fluxo que temos hoje. A performance questiona onde ou como guardamos estas memórias em nossos corpos e mentes, como lidamos com elas. É uma espécie de trauma coletivo, porque mesmo que você não tenha experimentado qualquer dificuldade em sua vida, você tem este conhecimento coletivo e também a informação visual direta, você faz parte deste círculo de experiência. A performance é catártica porque a intenção era mostrar que esta forma de experiência – seja ela o fortalecimento do eu ou a ditadura sobre o eu – é um processo muito forte.

A obra marca um período de muita autoinvestigação sobre realidades políticas e sociais; de nos permitir sentir e nos envolver por essas realidades, como um método, um espaço no qual outros possam estar envolvidos no processo de autoinvestigação. Naquela época, era importante ir a fundo, por isso realizamos outros trabalhos nos quais cortávamos palavras em nossa pele, usando o corpo como tela. Havia todo um processo de envolvimento profundo com o corpo, o sofrimento e o trauma das histórias pessoais e coletivas.

Os anos se passaram e houve uma fase em que fizemos muitas performances públicas, saindo do espaço da galeria e apresentando performances muito diretas na rua. Em seguida, tivemos uma fase na qual trabalhamos muito com nossos filhos, pensando muito no tipo de mundo que nós, como pais, imaginávamos para nossos filhos. Recentemente, estamos tentando pensar em trabalhos que pelo menos sugerem algum tipo de transformação. Às vezes é mais fácil diagnosticar os problemas numa determinada situação do que criar alguma alternativa ou movimento positivo.

Em My Possession, as três câmeras de vídeo transmitem a performance a telas de plasma usadas para dar à performance uma visibilidade incomum, incluindo closes de detalhes dos movimentos do performer. O objetivo é reunir as qualidades da performance – que acontece ao vivo, é imediata e intensa – e as qualidades do vídeo como ferramenta de abstração e consciência expandida.
O vídeo tornou-se algo normal para nós, mas se você parar para pensar trata-se de um fenômeno extremamente interessante. Através do vídeo, temos a possibilidade de um impacto estendido. Por exemplo: no momento desta interação, nossos trabalhos em vídeo estão sendo exibidos em diferentes locais do mundo. Talvez até estejam acontecendo outras apresentações sem que saibamos, porque o material está circulando. Isto quer dizer que não estou simplesmente sentado aqui falando com você, mas que meu impacto no mundo está sendo transportado pela mídia. É a ideia de emanação ou extensão do eu.

As pessoas estão tomando consciência disto e usando isto, multiplicando a si mesmas, sua expressão e seu impacto para além, por exemplo, do círculo familiar ou social. Estas interações estão acontecendo numa velocidade muito grande. Não sabemos bem como isto está alterando nossa compreensão de nós mesmos e dos outros. Precisamos tomar consciência disto, que é o que tentamos investigar neste trabalho.

Mwangi Hutter é formado por Ingrid Mwangi e Robert Hutter. Temos a ideia de uma visão compartilhada, de nos apresentar como um só artista. Aqui, mais uma vez, estamos discutindo as barreiras, os conceitos, as construções que criam nossa identidade. Estamos sugerindo que a ideia de diferentes gêneros e histórias pessoais pode, na verdade, ser totalmente superada dentro desta unidade, dentro desta união. Não estamos forçando um consenso e sim atuando como um só corpo, um só organismo. Achamos que está é uma nova construção, que talvez possa ser mais útil no futuro. Uma ideia de visão compartilhada na qual tentamos ver e compreender o mundo juntos."

Mwangi Hutter em depoimento à PLATAFORMA:VB (agosto 2014)


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Dados técnicos

My Possession (2005) | Mwangi Hutter

Vídeo | 31'28"

Depoimento Ingrid Mwangi | 15º Festival

Ingrid Mwangi, a member of the Mwangi Hutter duo, took part in the debate Performance Re-enactments: How Does History Repeat Itself? during the 15th Festival (2005), an edition with a particular emphasis on performance.

Ações VB
15º Festival
Memórias Inapagáveis
Outras conexões

A performer cubana Ana Mendieta investiga em sua obra a relação entre o corpo individual e o contexto político.

Outros casais de artistas abordam a questão da identidade individual, como Gilbert e George.

Anexos

Ana Mendieta: death of an artist foretold in blood (The Guardian, set. 2013) [eng]

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