"A pesquisa para realização das obras Túnel e O russo não está separada do trabalho que eu vinha realizando anteriormente. São pinturas que tem como referência imagens encontradas na internet. Mais do que desenvolver um estilo em pintura, procuro me colocar como sujeito diante de distintas imagens e trabalhar uma forma de representar suas narrativas; penso também na representação como uma encenação dos fatos ali encontrados. Nesse sentido, me interessa uma contaminação por outras mídias, outras linguagens, e não uma pintura que busque tratar estritamente de questões referentes ao meio. Isso ocorre sem que se perca o caráter objetual da pintura, nem questões relativas à própria linguagem pictórica.
O russo é uma imagem retirada de um filme; o título veio depois, sugerido pela densidade do retrato, um personagem que poderia ser característico do romance russo. Essa pintura é seca, rápida, sem muitos excessos, sem muita sedução em relação à matéria. O trabalho Túnel, especialmente quando exibido ao lado deste retrato ganha um certo suspense. Aqui a pintura é um pouco mais fluida, e sua estrutura tem um desenho mais geométrico, que se aproxima de uma abstração. Cada pintura pode ter seu significado alterado de acordo com aquela que está ao seu lado. Juntas elas podem ser partes de uma mesma narrativa.
Não poderia defender aspectos especiais dessas duas obras em particular; elas fazem parte de uma espécie de constelação. Me interessa uma leitura que, ao invés de focar em uma determinada questão, abra espaço para diferentes interferências, em uma espécie de dispersão constante. Um nomadismo que, em última instância, é uma interpretação do mundo, uma possível abordagem poética."
Ana Prata em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
