As Pérolas, como te escrevi

2011
Regina Parra
publicado em 13.10.2013
última atualização 08.09.2014

Eu gostaria de começar nossa conversa pensando nos fluxos que o seu trabalho trilha. Estou me referindo aos fluxos do texto Mundus Novus, de Américo Vespúcio, que você escolheu para ser lido. O texto é um relato sobre o Brasil, a partir da visão de um “explorador”, que daqui nada sabia. Você se apropriou desse texto e ainda...


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Eu gostaria de começar nossa conversa pensando nos fluxos que o seu trabalho trilha. Estou me referindo aos fluxos do texto Mundus Novus, de Américo Vespúcio, que você escolheu para ser lido. O texto é um relato sobre o Brasil, a partir da visão de um “explorador”, que daqui nada sabia. Você se apropriou desse texto e ainda propõe para um estrangeiro ler. Há aí outra apropriação. E todos esses ciclos de tradução e apropriação fazem parte do vídeo. Ou ainda, podemos chamar esses ciclos de “tradução intersemiótica”, como propõe o Julio Plaza.
Tem tudo a ver. Eu não cheguei a falar com você sobre tradução?

Não.
Porque é disso que trata o segundo capítulo da minha dissertação.

Você usou o que o Julio Plaza propõe?
Não, exatamente. Usei A Tarefa do Tradutor, do Benjamin. O meu trabalho se relaciona com a tarefa do tradutor e com a ideia de tradução como um processo de transformação e criação. Gostei muito do que você falou, que você vê no trabalho um processo de tradução, porque, realmente, eu penso nesse deslocamento de um texto que vai passando de pessoa para pessoa e absorvendo camadas. Vou falar da minha dissertação, porque traz uma contextualização para o trabalho. Posso?

Claro, a gente vai pensar juntas.
A pesquisa é sobre o Anri Sala, mas acaba passando por assuntos que me interessam e conversam também com a minha produção artística. O que procurei pesquisar no Anri Sala foi exatamente como ele trabalha situações onde o convívio entre diferenças pode ser vislumbrado. O primeiro capítulo da pesquisa é sobre a resistência da obra (de arte ou literária) diante de qualquer tentativa de análise, ou seja, sobre como há sempre um componente que escapa à análise e à tentativa de interpretação total, mas é esse elemento, esse nó que dá sentido a todo o resto. E no segundo capítulo tento propor como a tradução pode ser esse lugar onde o convívio entre diferenças é possível, mas não um convívio apaziguador ou nivelador, não um convívio que um anula o outro. É um embate – daí entra o que você falou – a tradução como uma possibilidade de criação. E o que o Benjamin fala – que também tem a ver com esse trabalho – é que a tradução é sempre um processo de transformação que envolve renúncia, envolve perda, mas também envolve criação.

Acho muito bom que a gente tenha se encontrado num mesmo ponto, a partir de autores diferentes.
Sim. E o melhor desses pensamentos é que eles admitem que o texto vai se modificando, que existem possibilidades de criação de coisas novas e inesperadas. Isso tem a ver com o texto que eu estou trabalhando no vídeo. Há mais camadas: há estudos que dizem que o texto do Américo Vespúcio, provavelmente nem foi escrito por ele. Ou seja, tomei um texto que já é, provavelmente, uma tradução modificada por alguém. Imagina o quanto isso já foi traduzido até chegar a essa versão que eu tenho. Quando proponho esse texto para o imigrante ler, espero que essa leitura não seja neutra. Estamos conversando bastante sobre o trabalho, sobre o que é esse texto, o que ele fala, por quem ele foi escrito. Estou tentando provocá-los para saber a opinião deles, o que eles acham desse texto, o que eles acham do Brasil.

Entrevista realizada pela pesquisadora Galciani Neves com a artista Regina Parra durante a residência artística Ateliê Aberto #4, uma parceria entre SESC, Videobrasil e Casa Tomada.
[leia na revista abaixo a entrevista na íntegra]


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As Pérolas, como te escrevi (2011)

Leia na íntegra esta entrevista, publicada na revista Convivências #4, realizada em ocasião da residência artística Ateliê Aberto #4. [pt]

Estudo para As Pérolas, como te escrevi.

Em residência.

Ações VB
17º Festival
Quem não luta está morto!
Outras conexões

Blog de Galciani Neves no projeto.

 

Blog de Regina Parra no projeto.

Anexos

A entrevista na íntegra. [eng]

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