Inimigo Invisível

2011
Guilherme Peters
publicado em 12.10.2013
última atualização 08.09.2014

Gui, durante alguns encontros aqui na Casa Tomada, inclusive em um dia com o Bernardo Mosqueira, nós discutimos muito sobre arte militante, sobre os posicionamentos dos artistas diante dos problemas da contemporaneidade. Você e a Carol falaram muito sobre o teor revolucionário de alguns trabalhos e de como propor questionamentos na arte. Acho que a gente vive um momento de...


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Gui, durante alguns encontros aqui na Casa Tomada, inclusive em um dia com o Bernardo Mosqueira, nós discutimos muito sobre arte militante, sobre os posicionamentos dos artistas diante dos problemas da contemporaneidade. Você e a Carol falaram muito sobre o teor revolucionário de alguns trabalhos e de como propor questionamentos na arte. Acho que a gente vive um momento de muita dificuldade de converter retórica em resultado, depois de ter passado por meia dúzia de desilusões, planos fracassados e algumas tentativas em vão. A dinâmica das utopias parece ter se diluído em projetos vagos e frustrantes. A arte não passa ilesa. Segundo a Claire Bishop, a arte parece ter se tornado a última esfera de reivindicação e discussão e ainda, em certa medida, sem dar conta de todas essas pretensões. Ficou bem claro durante a residência que essas questões pontuam sua produção. Como seu trabalho lida com esses temas e com essas suposições de esvaziamento de urgências?
Eu me questiono sobre isso o tempo todo: ainda é possível uma ação revolucionária? Ou construir algo que transforme o mundo e as pessoas? Às vezes acho que me acomodar nessa impossibilidade é justamente uma situação conformista. Virou regra não pensar no que poderia ser possível. Não se sabe mais como tomar uma atitude política. Será que o mercado de arte está esperando isso de um trabalho? Ou se o mercado espera um trabalho político porque isso vende? Parece que as pretensões de ação revolucionária também foram incorporadas. E aí, me pergunto como é possível fazer algo para fugir de toda essa situação. Às vezes, não vejo muitas saídas de como agir nesse mundo onde tudo pode ser incorporado pelo mercado. É uma pergunta que eu lanço e que nem sei a resposta.

Você acha que mesmo as exceções na arte estão virando regra? E que, nesse sentido, o seu trabalho tem que ocorrer como um desvio?
Acho quase impossível pensar em exceções que não sejam rapidamente absorvidas. E não corro por fora, senão eu não estaria aqui dentro, não toparia expor na Galeria Vermelho, não estaria me inserindo num circuito.

Então, seu trabalho se constrói inserido nesses circuitos? Como elaborar uma brecha?
Não pretendo criar um projeto específico, nem quero colocar regras de como agir no mundo. Eu não quero quebrar com nada, porque ainda não sei o que deveria vir no lugar. Não tenho o “meu” projeto, uma “utopia”. Sinto que alguma coisa precisa mudar, mas eu não sei como, nem por onde começar. Não sei ainda como combater o sistema. Talvez não tenha sido muito claro, mas tudo ainda está nebuloso para mim. São assuntos que exploro, não tenho certezas construídas.

Está claro, sim. Acho que é na conversa que a gente vai se encontrar. Quando a gente fala para o outro, às vezes, acaba resignificando tudo. O título do seu trabalho diz muito sobre tudo isso, sobre essas percepções que você ainda não domina, como você mesmo disse.
Ainda tenho dúvidas sobre o título. Você não acha que fica meio didático? Ou que o título pode ser apenas uma entrada no trabalho?

Entrevista realizada pela pesquisadora Galciani Neves com o artista Guilherme Peters durante a residência artística Ateliê Aberto #4, uma parceria entre SESC, Videobrasil e Casa Tomada.
[leia na revista abaixo a entrevista na íntegra]


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Leia na íntegra esta entrevista, publicada na revista Convivências #4, realizada em ocasião da residência artística Ateliê Aberto #4. [pt]
 

Inimigo invisível (2011), vídeo realizado por Guilherme Peters em ocasião do 1º Prêmio Ateliê Aberto Videobrasil, e exibido no 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil.

Making Off de Inimigo Invisível.

Em residência - semana 2.

Ações VB
17º Festival
São tempos sombrios para os sonhadores
Outras conexões

Blog de Galciani Neves no projeto.

 

Canal de Guilherme Peters no Vimeo.

 

"A conversa com o Guilherme Peters aconteceu depois da captação das imagens de seu vídeo. Sentamos rodeados por seus desenhos de soldados, War poems, Medo líquido, de Zygmunt Bauman; Bem-vindo ao deserto do real, de Slavoj Zizek; O livro vermelho, de Mao Tse-Tung; Ensaios sobre o medo, de Adauto Novaes. Próximo a nós também estavam suas anotações sobre o seminário Revoluções (abril/2011) - uma espécie de caderno de anotações aberto."

Anexos

A entrevista na íntegra. [eng]

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